COUTO,
Edilece Souza. Considerações Sobre a Produção Historiográfica
das Religiões e Religiosidades na Bahia. In: DIAS, Luis Mattedi et
al (Org.). História, Cultura e Poder. Salvador: EDUFBA, 2010.
p. 141-146.
Wagner
Aragão Teles dos Santos1
Neste
trabalho, a autora visa analisar algumas obras de historiografia das
religiões e religiosidades na Bahia, que foram produzidas e
publicadas a partir da década de 1970. Observando assim, o aumento
do número de pesquisas sobre religiões na Bahia
neste
período,
em
que o
referencial historiográfico
é a
francesa Escola
dos Annales.
Ao
analisar os primórdios da História das Religiões, a autora explica
que no início os historiadores tinham como preocupação, “a busca
da origem das religiões, da essência da vida do homem religioso e
da precisão dos textos e livros sagrados”, utilizando assim, o
método comparativo para analisar os mitos, ritos, símbolos e
instituições
de diversos contextos religiosos. p.142.
A
autora explica que a História Religiosa, onde aborda apenas uma
religião ou alguns dos seus aspectos teve seu desenvolvimento no
século XX e que durante muito tempo, ela foi confundida
com a história eclesiástica. Apenas
na segunda metade do século XX ela se estabelece no meio acadêmico
e científico.
Nesse
período, há uma renovação na historiografia religiosa com a
influência das
novas abordagens trazidas pela historiografia francesa da Escola
dos Annales, no
qual, reconhece o homem como participante do processo histórico.
“Nesse
sentido, passaram a valorizar os modos de sentir e pensar das classes
subalternas e a relação existente entre suas crenças e os aspectos
sociopolítico e econômico” p.143.
Para
a autora, a partir da década de 1970, a historiografia brasileira
foi influenciada pela História das Mentalidades,
herdeira dos Annales,
abrindo-se
para novos temas e novas perspectivas teóricas, ao
valorizar temas ligados ao cotidiano e as representações. No
entanto, com as críticas internas e externas desse campo
historiográfico, considerado vago por muitos, a história
das crenças migrou para a História Cultural, tendo
como um dos seus principais expoentes, Carlo Ginzburg,
defensor
da teoria da “circularidade cultural”, o
qual acredita na “existência de uma influência recíproca entre
as culturas das classes subalternas e dominantes”.
Ao
analisar a historiografia Baiana a partir da década de 1970, a
autora identifica a importância
do livro A
heresia dos índios,
de Ronaldo Vainfas
para
a historiografia sobre religiosidade no período colonial, por
utilizar “reflexões e métodos da Antropologia na descrição
minuciosa
dos rituais: pregação dos pajés caraíbas, missa, batismo, etc”.
p. 145.
“Vainfas
explorou justamente a junção dos elementos de raças e credos
diversos, portanto a circularidade cultural, presente
nesse catolicismo tupinambá. p.145.
A
autora
também ressalta a importância de Vainfas e de Luiz Mott nas
pesquisas sobre sexualidade na
Bahia colonial, em
que evidenciam a existência de leis e regras de comportamento
impostas pela igreja, para que os fiéis se afastassem das tentações
sexuais, ao mesmo tempo que demonstra as inúmeras práticas sexuais
condenadas pela igreja, praticada
inclusive, por padres e freiras.
Sobre
o período a Inquisição na Bahia colonial, a autora destaca o
trabalho Lígia Belinni, que trata das práticas de sodomia entre as
mulheres, e a dissertação e tese de Suzana Severs que trata sobre
os cristãos novos na Bahia setecentista.
Ao
tratar das pesquisas sobre as Ordens Terceiras, Edilece Couto destaca
o trabalho de Maria Vital Camargo, que analisou “a organização
interna da Ordem: Compromisso, administração, e composição da
mesa, além da posição socioeconômica e religiosa dos irmãos”.
p. 146. Outro
trabalho destacado é o de Maria Socorro Martinez, que estudou as
ordens terceiras em Salvador, tecendo comparações entre hierarquias
e ideologias políticas entre as
cinco instituições.
Dois
trabalhos de João José Reis são lembrados pela autora. O livro
A morte é uma festa
e o artigo O
cotidiano da morte no Brasil oitocentista. Nos
dois trabalhos,
o autor analisa a morte, em que “procurou compreender as concepções
dos brasileiros. Sobretudo dos baianos, sobre o mundo dos mortos e
dos espíritos”. p.
147
Dentre
outros trabalhos observados, a autora analisa os estudos realizados
sobre as festas, ressaltando que os estudos sobre este tema, a partir
1970, visou-se “compreender as festividades não apenas como
momentos de diversão, mas ocasiões nas quais podem ser observados e
analisados os comportamentos, atitudes, tensões, representações
culturais e visões de mundo de uma coletividade.” p. 148. Dentre
estes estudos estão o de Wlamyra Albuquerque, sobre a festa do Dois
de Julho, e o de Eduardo Guimarães, sobre a festa do Bonfim.
Edilece
Couto, observa também, que as religiões protestantes têm atraído
a atenção dos pesquisadores baianos nos últimos anos. A
dissertação e tese de Marli Geralda sobre a Primeira Igreja Batista
é um dos exemplos que ela utiliza. Trabalho pioneiro, suas pesquisas
são referência para o estudo sobre a expansão das igrejas
protestantes em território baiano.
Por
fim, a autora, explica que, “nessas quatro décadas de estudo sobre
o campo religioso na Bahia, grande parte das obras aqui comentadas
foram escritas por alunos que eram ou se tornaram professores do
Programa de Pós-graduação em História da UFBA”. p. 152.
Segundo ela, a partir de 1989, várias dissertações foram
orientadas por esses professores.
A
autora chega a conclusão que, entre os anos de 1989 e 2008 foram
defendidas no Programa de Pós-graduação da UFBA, 23 dissertações
e uma tese sobre religião. Sendo 8 sobre a Igreja Católica e as
práticas leigas, 7 sobre Religião e Política, 4 sobre Ordens
religiosas, 2 sobre Protestantismo e 2 sobre Messianismo.
A
partir desses dados, a autora observa que há um vasto campo a ser
pesquisado no que se refere às religiões Protestantes e
Pentecostais na Bahia, pois, “a única dissertação defendida em
História sobre a expansão do neopentecostalismo trata da Igreja
Universal do Reino de Deus em Moçambique”. p. 154.
A
autora revela que apesar dos avanços nesse campo de investigação,
há ainda muito o que se investigar, pois, pesquisas sobre religiões
afro-brasileiros, por exemplo, ainda é escassa.
1Wagner
Aragão Teles é especialista em História Social e Econômica do
Brasil e Pós- graduando do curso de História da Bahia pela
Faculdade São Bento da Bahia.
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